É pra ontem
Nos meios empresariais já predomina um certo conformismo com o ritmo lento da recuperação econômica.
Diante do conjunto de fatores internos (demora no andamento das reformas tributária e administrativa, resistência da burocracia, da corrupção e do corporativismo) e externos (coronavírus, disputas comerciais, valorização do dólar, instabilidades políticas) que se combinaram para retardar a retomada do crescimento, não resta outra saída a não ser navegar no modo paciência.
Afinal, é melhor isso do que nada.
Já não se pode exigir o mesmo dos milhões de brasileiros que perderam seus empregos na eclosão da crise econômica deflagrada pelos desvarios dos governos petistas.
Eles têm pressa.
E aí reside um dos grandes dramas do Brasil na atualidade: a criação de postos de trabalho em volume e velocidade suficientes para atender as necessidades do país não depende apenas de um movimento mais dinâmico da atividade produtiva.
Existe no caminho um gigantesco problema que também urge ser enfrentado, como bem expôs o cientista Murillo de Aragão em um trecho de recente e inquietante artigo publicado na revista Veja:
“Parte significativa do contingente de desempregados de agora não tem empregabilidade na economia de hoje e dificilmente terá espaço na economia do futuro.
E esse quadro tende a se agravar, devido ao baixo investimento em educação e em pesquisas no país. Muitos continuarão dependendo de políticas assistenciais do governo.
De um lado, milhões de empregos serão extintos pelo uso intensivo da inteligência artificial. O Banco Mundial calcula que 800 milhões de postos deixarão de existir no mundo até 2030.
De outro lado, a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação estima que em 2024 teremos um déficit de mão de obra qualificada para o setor em cerca de 50% da oferta.
Estamos entre a cruz e a espada: extinção de empregos por causa da tecnologia e carência de profissionais para lidar com os novos tempos.
O Brasil deve, sob pena de perder o expresso do futuro, acelerar o encerramento das agendas do século XX e começar a trabalhar com afinco nas agendas do século XXI.
Lembrando que a agenda de reformas (…) não bastam para nos levar a um futuro promissor, servem somente para nos colocar novamente em posição de olhar para o futuro com um pouco mais de realismo.
Precisamos romper a lentidão que sempre dominou o tempo na máquina pública, interessada mais em si mesma do que no país.
As reformas do século XX foram batalhas em trincheiras. No século XXI, serão travadas com drones e hackers.
Não estamos preparados.
Portanto, temos de pensar urgentemente no longo prazo, mas agir em curtíssimo prazo”.
Eis o imenso e angustiante desafio dos nossos dias.
(Leia e compartilhe outras postagens acessando o site: caiogottlieb.jor.br)