À espera de um milagre
Se as eleições presidenciais do próximo domingo (28) na Venezuela fossem livres, honestas, limpas e transparentes, o desprezível ditador Nicolás Maduro sofreria uma fragorosa derrota.
Nem mesmo suas ameaças criminosas de que haverá uma guerra civil com grande banho de sangue caso ele perca a disputa serão capazes de amedrontar os venezuelanos ao ponto de inibi-los de ir às urnas para livrar-se do tirano e mudar os rumos de sua pátria.
O povo não aguenta mais a sanguinária opressão política e a devastadora crise econômica.
Não é à toa que todas pesquisas sérias e independentes indicam a vitória por larga margem do candidato opositor de centro-direita Edmundo González Urrutia, que tem em média 68% das intenções de voto contra pouco mais de 10% de Maduro.
Mas as eleições serão escandalosamente roubadas aos olhos do mundo inteiro. São remotíssimas, quase inexistentes, as chances de que o verdugo bolivariano, mesmo perdendo por incontestável diferença, aceite deixar o cargo. Só uma graça divina salva os nossos infelizes vizinhos.
Maduro dispõe de um vasto arsenal de artimanhas para ganhar o pleito de um jeito ou de outro, e já as vem colocando em prática.
Para começo de conversa, há alguns meses ele adotou a providencial medida de proibir a vinda ao país de missões de observação eleitoral com credibilidade, como as da Organização dos Estados Americanos e da União Europeia.
A maior parte dos observadores estrangeiros convidados pertence a grupos que aplaudem o regime, como, por exemplo, para nossa vergonha, o governo brasileiro.
Por sinal, cedendo a pressões do Palácio do Planalto, o Tribunal Superior Eleitoral, que incialmente havia decidido não enviar ninguém, voltou atrás e designou dois funcionários para acompanhar o pleito.
Junto com eles estará o ex-chanceler Celso Amorim, assessor de assuntos internacionais da presidência da República, um notório bajulador do Putin e defensor dos terroristas do Hamas.
Obviamente, o trio vai com a missão de legitimar, com escancarada cumplicidade, a fraude armada para manter no poder o amigo do Lula.
Dentro desse roteiro previamente planejado por Maduro, vamos ver inúmeras prisões de adversários às vésperas da votação, além do cerceamento ainda maior do direito de ir e vir da população e da ampliação da censura nos veículos de comunicação não controlados pelo Estado.
Antes disso, preventivamente, o tribunal eleitoral, a mando dele, desqualificou as candidaturas das principais líderes da oposição que despontavam com boas possibilidades de êxito, tirando do páreo primeiramente María Corina Machado, que venceu as primárias realizadas em outubro, com mais de 92% dos votos, e depois inabilitando também sua substituta Corina Yoris.
Posteriormente, María Corina nomeou o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, de 74 anos, para ocupar seu lugar.
Como se não bastasse, Maduro impediu 4,5 milhões de exilados venezuelanos — ou mais de 21% do total de eleitores — de se registrarem para votar no exterior.
Não existe liberdade de imprensa na Venezuela. González Urrutia e os demais líderes oposicionistas praticamente não têm acesso à TV aberta.
María Corina faz campanha para Urrutia de carro, porque todas as companhias aéreas nacionais estão proibidas de deixá-la embarcar em voos.
Nas últimas semanas, o governo prendeu dezenas de ativistas contrários a Maduro para intimidar outros e evitar que façam campanha pela legenda da oposição unida.
Por todos os lados vê-se a mão do regime tentando manipular a vontade popular: segundo um estudo divulgado recentemente pelo Observatório Global de Comunicação e Democracia há irregularidades dos mais variados tipos em 86% dos centros de votação.
Em alguns deles, há um excesso de eleitores registrados, ao mesmo tempo em que muitos eleitores em distritos com maioria de oposição descobrem, como ocorreu nas últimas eleições, que seus locais de votação são mudados no último minuto para lugares distantes.
As cédulas são formuladas para favorecer Maduro: na primeira e na segunda linhas, a foto do déspota sorridente aparece 13 vezes, representando vários partidos reais e fictícios.
Comparativamente, a foto de González Urrutia aparece apenas três vezes — e perdida nas linhas inferiores entre muitos outros candidatos de menor relevância.
Vários dos principais partidos da oposição sofreram “intervenção” da ditadura e agora são liderados por aliados de Maduro.
O truque é fazer com que muitos eleitores acreditem que estão votando em um candidato da oposição, quando, na realidade, estão sufragando um fiel servidor do regime.
Muitas seções de votação estão localizadas em instalações de “missões” que fornecem subsídios sociais e em edifícios residenciais pagos pelo governo, onde funcionários do partido chavista podem intimidar as pessoas recomendando-lhes que votem em Maduro sob a ameaça de perderem seus benefícios.
Eis aí, em suma, uma pequena amostra do cenário que marcará nesta semana mais um triste capítulo da história de uma nação que já foi uma das mais prósperas do continente e hoje, debaixo do tacão de um governante insano, afunda cada vez mais no caos político, econômico e social.
Talvez esteja chegando a hora em que os venezuelanos não vejam outra saída senão se levantar para assumir as rédeas do seu próprio destino.