Ditadores agora vestem toga
Tem muita gente aplaudindo a prisão do Roberto Jefferson, decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, pela suposta prática de uma série de crimes, entre eles os ditos “atos antidemocráticos”.
Comentando o episódio e associando-o aos casos anteriores envolvendo Osvaldo Eustáquio e Daniel Silveira, também levados à cadeia por ordem de Moraes, Alexandre Garcia escreveu: “Presos um jornalista, um deputado, um presidente de partido, ficamos calados porque não gostamos deles. Depois descobrimos que qualquer um de nós pode ser preso por opinião. Calados, aceitamos censura à nossa opinião e tutela a nossa própria liberdade. Quem cala, consente”.
Assino embaixo.
Considero o Jeferson um completo desmiolado. Não tenho por ele a menor simpatia, tanto por seu passado criminoso de conluio com o PT no escândalo de corrupção do Mensalão como por seu modo de atuação na política.
Mas nem por isso posso concordar com a escandalosa arbitrariedade de sua detenção, que fere todos os princípios de um estado pretensamente regido pela correta aplicação da Justiça.
Já escrevi aqui, recentemente, que algo vai muito mal em um país onde uma autoridade, ao ser criticada, se coloca como vítima e se investe monocraticamente das prerrogativas de investigar, acusar, denunciar, mandar prender e julgar seus desafetos.
Se isso não for um ataque frontal, claro e explícito à democracia, então não sei mais o que é.
Preocupam-se à toa aqueles que, assustados com os discursos mais inflamados de Bolsonaro, dormem com medo de que Brasil vire uma ditadura.
Tenho uma notícia para vocês: já estamos nela há muito tempo, instalada, diante dos nossos olhos, sem soldados e tanques nas ruas.
O STF, por qualquer um de seus integrantes, está governando o país.
De fato e de direito.
Até quando vamos aceitar isso?