Lula libre
Diante do terremoto provocado pelo resultado das eleições primárias do último domingo (11), que revelou uma forte tendência da volta da esquerda ao poder na Argentina, o presidente Mauricio Macri tomou a iniciativa de telefonar ao seu oponente Alberto Fernández (que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner) para combinar a divulgação de declarações mútuas com o objetivo de acalmar a população e tranquilizar o mercado financeiro.
Foi uma conversa cordial de quinze minutos durante a qual ambos se comprometeram a evitar discursos catastróficos para que a disputa pela Casa Rosada, a ser decidida em outubro, não agrave ainda mais a crise econômica e mergulhe o país em uma convulsão social.
Em sua detalhada reportagem sobre a “charla”, o jornal Clarín descreveu até o local onde o vitorioso nas prévias recebeu a ligação de Macri, chamando a atenção, especialmente de nós, brasileiros, o trecho que pincei e postei no título da nota: “na sala de estar de seu escritório, entre poltronas brancas, livros de Lula (o negrito é meu) e um pôster de Bob Dylan”.
Professor universitário, chefe de gabinete na presidência de Néstor Kirchner e ex-vereador em Buenos Aires, Fernández é um antigo admirador do petista, já tendo, inclusive, o visitado na cadeia em Curitiba.
Assim como outros seguidores de Hugo Chávez e Fidel Castro, é mais um que acredita na farsa de que o ex-presidente, condenado em três instâncias judiciais pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, é um preso político.
Se for eleito (e a chance é alta), as relações entre Brasil e Argentina enfrentarão dias difíceis.
As pesadas críticas disparadas contra ele pelo presidente Jair Bolsonaro, revidadas com igual intensidade, já ditaram o ritmo do baile.