Alta tensão
Do outro lado da Ponte da Amizade, a terra está tremendo e provocando enormes estragos.
Um acordo secreto revelado nos últimos dias, que permite ao Paraguai vender a empresas brasileiras a energia excedente produzida por Itaipu, foi denunciado como danoso ao país e já derrubou o ministro das Relações Exteriores e o chefe da companhia estatal de eletricidade, podendo ainda levar à renúncia o vice-presidente da República.
Sob forte pressão da opinião pública, da oposição e da imprensa, correndo o sério risco de sofrer um processo de impeachment, o presidente Mario Abdo Benítez está tendo que entregar os anéis para não perder os dedos.
Para o Brasil, a crise no vizinho, sócio na hidrelétrica binacional que está no olho do furacão, tem um aspecto didático.
O conflito dá uma amostra do que
deve ocorrer em 2023, quando os dois países terão de renegociar o Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata da venda da energia como forma de pagamento do financiamento da usina.
Em 1973, Brasil e Paraguai dividiram a construção de Itaipu, mas os paraguaios não tinham dinheiro para arcar com sua metade dos custos, e o Brasil financiou o projeto.
O Anexo C trata desse pagamento, que estará totalmente amortizado em 2023.
Até se chegar a um entendimento, haverá curtos-circuitos, choques e faíscas para todos os lados.