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Meu amigo Jaime Lerner

Publicado por Caio Gottlieb em

Tive o privilégio de me tornar amigo pessoal de Jaime Lerner.

Uma amizade sólida e sincera que se iniciou em seu segundo mandato na prefeitura de Curitiba, atravessou seus oitos anos à frente do governo do estado e permaneceu inabalável até este momento em que sua presença física não está mais entre nós.

Esse longo e prazeroso convívio (que relembro na foto aqui postada, captada em 1996, em uma das inúmeras entrevistas que fiz com ele na TV Tarobá) me permitiu aprender a admirar o arquiteto genial, o urbanista visionário de renome internacional e o homem público simples, humanista e sereno, avesso às brigas, às intrigas e às rasteiras da política, que sempre buscou o melhor para a cidade e o estado que tanto amava.

Era uma personalidade cativante, sempre em paz com a vida, contador de histórias, apreciador de bons vinhos e boa comida, bonachão e perspicaz.

Dono de refinado humor, perdia o amigo, mas não perdia a piada.

Igual a qualquer ser humano, teve acertos e erros.

Como prefeito por três gestões, foi um administrador criativo e revolucionário, que fez da capital paranaense um modelo mundial de inovação no transporte público, na sustentabilidade, na estrutura urbana, na arquitetura, no paisagismo e na cultura.

Talvez nunca devesse ter sido governador; não tinha a habilidade, o jogo de cintura e a paciência para lidar com o jogo político em âmbito estadual.

Atribui-se a ele grande parte da culpa pelo modelo de concessão das rodovias do Anel de Integração que resultou em pedágios caros e na ausência das obras prometidas nos contratos, mas a verdade é que as lideranças políticas e a sociedade paranaense como um todo também pecaram à época pela omissão em discutir o assunto com a profundidade que fazem hoje.

Por outro lado, deve-se a ele o maior e mais ambicioso programa de industrialização realizado até então no Paraná, que atraiu para o estado grandes companhias globais, como as montadoras de automóveis Renault e Audi-Volkswagen.

Dentre as muitas homenagens prestadas a Lerner neste dia de pesar, talvez a mais emblemática de todas seja a mensagem divulgada pelo também ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná, Roberto Requião, que reproduzo abaixo:

“Me tocou profundamente o falecimento de meu contemporâneo, na vida e na política, Jaime Lerner. Tínhamos concepções diferentes da política e da administração pública, mas ninguém pode ocultar e deixar de considerar o brilho e o talento do Jaime Lerner, na administração de uma cidade, dentro da visão liberal que ele tinha do processo político. Sinto profundamente a morte do Jaime, e ao mesmo tempo tenho a certeza de que na história do Paraná e da nossa cidade de Curitiba ninguém poderá desprezar a contribuição inteligente, fundamentalmente na criação de um mobiliário urbano icônico, que o Jaime Lerner deu. Eu e a minha família estávamos torcendo pela sua recuperação. Vai com Deus, Jaime”.

Para quem não sabe, Requião protagonizou com Lerner alguns dos mais duros embates da história política do estado.

Suas palavras sobre o antigo adversário representam o maior de todos os reconhecimentos a que Lerner faz jus.

Shalom alechem, governador.

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2 comentários

Hari Pydd · 27/05/2021 às 23:49

Como prefeito de Curitiba, Jaime Lerner merece o reconhecimento de todos os paranaenses. Suas obras se perpetuam.

José Alberto Dietrich Filho · 27/05/2021 às 20:45

Caio, em 1971 o Lerner foi “nomeado” prefeito de Curitiba. O regime militar estava no seu auge. Lerner Tinha um gás, uma vontade extraordinária de modernizar a cidade. Eu tinha 20 anos, era estudante de jornalismo e repórter de O Globo no PR. O início da gestão dele foi tão “agressiva” para os padrões conservadores curitibanos, que foi destaque na imprensa nacional. Fiz uma longa matéria quando ele inventou as tais vias rápidas, coisa jamais imaginada para a época. O Globo publicou a matéria com a minha assinatura. Ele gostou tanto que também nos aproximou e toda vez que me via ele lembrava daquilo. Afinal era um desconhecido até então. Ninguém vive para sempre. Então não foi ” uma perda” a morte dele, mas um enorme privilégio termos tido o Jaime Lerner como prefeito de Curitiba e governador do nosso Estado.

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